A casa do poeta é um livro de poemas, de Leandro Salum, publicado pela Editora Autografia. O livro não é extenso, mas muito intenso. São 79 poemas distribuídos em 94 páginas. Uma das coisa que me chamou a atenção no trabalho de Leandro Salum é a sua facilidade de transformar em poesia algo para lá de corriqueiro, assim como fazia Mario Quintana, que criava um poema até mesmo vendo uma formiguinha atravessar uma folha de papel em branco. Salum consegue olhar a vida e o cotidiano com um olhar diferenciado, com uma visão singular da vida, o que faz com que até mesmo meras bolhas de sabão transformem-se em um belíssimo poema:
Mas não são apenas situações corriqueiras que o autor utiliza em suas poesias. Salum sabe trabalhar muito bem os sentimentos mais profundos, intensos e universais, do tipo a que todos nós estamos sujeitos, como a saudade, mas nem por isso abdica de sua forma simples, envolvente e comovente de se expressar, conforme podemos constatar no poema a seguir:
Outra característica encantadora em um poeta é o bom humor utilizado na medida certa, e isso Leandro Salum demonstra ter de sobra, ao apresentar-nos poemas nos quais, embora os temas sejam profundos, o eu-lírico se permite brincar com a própria dor. Observe o poema abaixo, em que o poeta "brinca" com o sentimento de um amor que não se realizou:
Para finalizar, gostaria de mostrar a vocês, leitores, um dos meus poemas preferidos do livro A casa do poeta. Ao utilizar-se da licença poética para criar um verbo novo, outonecer, Leandro Salum mostra-nos o quanto a vida é cíclica. Através da metáfora das quatro estações, que seguem o seu ciclo natural, o poeta nos faz refletir sobre os nossos ciclos internos. Tenho apenas uma palavra para definir o livro: imperdível.
Bolhas de sabão
Parece até besteira
Esta observação:
Quem nunca se encantou
Com bolhas de sabão?
Nos sentimos criadores
De planetas diversos,
Atmosferas multicores,
Que pontuam o universo.
Quanta magia nas esferas
Que duram alguns segundos.
São aquários de quimeras
Que não vivem neste mundo.
São caravelas terráqueas
Partindo para Plutão.
São estrelas supérfluas
Cadentes rumo ao chão.
A gota d'água
Bastou uma gota...
A última gota...
A ínfima gota...
Pra encher o balde...
Pra chover à tarde...
E derramar saudade...
Outra característica encantadora em um poeta é o bom humor utilizado na medida certa, e isso Leandro Salum demonstra ter de sobra, ao apresentar-nos poemas nos quais, embora os temas sejam profundos, o eu-lírico se permite brincar com a própria dor. Observe o poema abaixo, em que o poeta "brinca" com o sentimento de um amor que não se realizou:
Missivas de amor
Ao meu secreto admirador
Escrevo esta missiva.
Devolvo os gestos de amor
Em letra manuscrita
Não me envie, por favor,
Carta sem assinatura.
Já chega de dor.
Isso é loucura!
Cansei de esperar
(Na varanda de casa)
O carteiro chegar
Com cartas em brasa.
Foram tantas poesias...
Tantas palavras lindas...
Lágrimas e alegrias
Todas bem-vindas.
Mas não te revelaste;
Nunca vieste me encontrar.
Agora aqui estou (um traste)
Sem saber como falar.
Com palavras me cativas
Mas o que digo é verdadeiro:
Foram tantas tuas missivas
Que me apaixonei pelo carteiro.
Para finalizar, gostaria de mostrar a vocês, leitores, um dos meus poemas preferidos do livro A casa do poeta. Ao utilizar-se da licença poética para criar um verbo novo, outonecer, Leandro Salum mostra-nos o quanto a vida é cíclica. Através da metáfora das quatro estações, que seguem o seu ciclo natural, o poeta nos faz refletir sobre os nossos ciclos internos. Tenho apenas uma palavra para definir o livro: imperdível.
Outonecendo
O frio desce a colina
Enchendo a campina
De sombras cinzas
E ventos ranzinzas.
A poeira sozinha dança
Cobrindo a esperança
De dias ensolarados
E lagos espelhados.
As aves vão pro sul
Galgando o azul
Do céu descorado
Que parece cansado.
Eu não posso fingir
minhas raízes aqui
Finquei pra sempre
Sempre não livre.
Eu só posso esperar
Que o vento a soprar
Leve minhas folhagens
Como tristes mensagens.
Eu estou outonecendo
O tempo está me vencendo
Sei que virá outra estação
Mas o tempo não para no verão.
Para comprar: Cultura
Nenhum comentário:
Postar um comentário