Há determinadas personalidades, reais ou fictícias, que mexem de tal forma com o imaginário popular, que acabam tornando-se inesquecíveis, por mais que o tempo passe. Eu sou Jack, o Estripador - a autobiografia do mais famoso assassino da história, de James Carnac, publicado pela Editora Seoman, traz a história real, em uma obra supostamente autobiográfica, daquele que talvez tenha sido o maior assassino de todos os tempos. E o mais incrível de tudo é que ele nunca foi descoberto. O verdadeiro nome de Jack, nunca se soube. Esse pseudônimo, com o qual o assassino tornou-se conhecido, foi dado a partir da assinatura de uma carta, enviada à Agência Central de Notícias de Londres, em que o autor da carta apresentava-se como o responsável pelas atrocidades cometidas em Whitechapel, distrito londrino. As vítimas de Jack eram prostitutas, que tinham suas gargantas cortadas e seus corpos mutilados e, algumas vezes, os órgãos retirados, o que levava a crer que o assassino tinha conhecimentos consideráveis de anatomia. Em virtude de tanto mistério envolvendo a personalidade do serial killer, surgiram inúmeras histórias e teorias conspiratórias sobre ele. Há vários livros e filmes a respeito, contribuindo para a formação de um mito em torno de Jack, o estripador.
Então, Eu sou Jack, o Estripador não passa de mais um livro sobre o assunto? Não! Na verdade, este livro possui um grande diferencial em relação aos demais, pois trata-se, supostamente, de uma autobiografia, ou seja, seria o próprio Jack, o Estripador, contando a sua história. E quando eu digo "supostamente", quero dizer que, na realidade, não sabemos se é mesmo uma autobiografia ou um romance, um texto ficcional, escrito com base na história de Jack. Tampouco sabemos quem escreveu, já que o autor, James Carnac, não deixou registros de sua existência, o que nos leva a crer que se trate de um pseudônimo. O manuscrito foi encontrado entre o espólio de Sydney George Hulme Beaman, autor e ilustrador que viveu entre 1887 e 1932, e teria sido deixado a ele por James Carnac, em testamento, com uma carta, pedindo que o manuscrito fosse enviado a um agente literário após a sua morte. Ao final do livro, há uma análise do historiador criminal, especialista em Jack, o Estripador, Paul Beeg, que nos traz uma série de informações que podem nos ajudar (ou não) a concluir se o livro é, de fato, uma autobiografia, ou se é um texto ficcional.
James Carnac inicia a sua obra com uma dedicatória que deixa bem claro o seu caráter cínico: Dedico com admiração e respeito aos membros aposentados da Força de Polícia Metropolitana que, a despeito de sua energia e eficiência, me permitiram viver para escrever este livro. De acordo com a história narrada, aos 69 anos, James Carnac, ou, como ficou conhecido, Jack o, Estripador, resolve deixar registrada a sua história, na qual conta como surgiu, ainda na infância, o seu fascínio pelo sangue e pelas facas. Carnac nasce em Tottenhan, em uma família problemática, com pai médico fracassado e alcoólatra. Aos 12 anos, frequentava uma escola dirigida por um fanático religioso. Aos 17, o jovem carnac perde os pais de forma trágica e vai morar com um tio, de quem foge após algum tempo, para não ceder à tentação de cortar-lhe a garganta. Apaixona-se pela jovem Julia Norcote e, após perceber que não poderia viver próximo da moça sem representar perigo a ela, foge da noiva também.
A partir desse ponto, Carnac começa a narrar o seu mergulho nessa vida de crimes. Acompanhamos todo o planejamento minucioso de cada ação de Jack, o Etripador, tudo pensado com frieza, nos mínimos detalhes. Descobrimos, também, a razão pela qual ele parou de cometer os crimes, uma espécie de aposentadoria forçada. E quando pensamos que mais nada poderia acontecer, já que o serial killer encontrava-se velho e impossibilitado de atuar em suas matanças por uma limitação física, temos um final surpreendente. Devo confessar que não cheguei a uma conclusão definitiva quanto ao fato de Eu sou Jack, o Estripador ser ou não uma obra autobiográfica, mas estou bem quedada a achar que se trata mesmo de um texto ficcional, do qual gostei bastante, aliás. O medo que tive foi de que houvesse um excesso de cenas sangrentas, mas isso não aconteceu, é uma leitura muito tranquila, não há cenas fortes, pois não há descrição detalhada dos atos de Jack, o Estripador. Recomendo a obra, sobretudo a quem pretenda conhecer um pouco mais sobre o lado obscuro da alma humana.
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