De tempos em tempos acontecem situações que trazem à baila o tema da violência contra a mulher. Recentemente houve o caso do estupro coletivo de uma adolescente em uma comunidade no Rio de Janeiro. Esses acontecimentos, geralmente, causam uma comoção em uma parte da população, mas em outra parte, bem significativa, surgem as mesmas acusações de sempre, culpabilizando a vítima pela violência sofrida. Em Filhos do silêncio, da autora Elisa Marina, publicado pelo selo Lampejos, da Editora Penalux, o leitor se depara com uma situação a que todas nós mulheres estamos sujeitas: uma gravidez originada por um estupro.
Natália é uma mulher de 39 anos que, embora bem-sucedida no âmbito profissional, coleciona frustrações em sua vida amorosa. Como acontece com grande parte das mulheres, Natália sonha em encontrar o amor de sua vida e com ele ter um filho. Mas a última decepção amorosa deixou-a com medo de se apaixonar novamente, decidida a se dedicar somente a sua carreira. Não bastando a tristeza pela decepção sofrida, Natália descobre um problema no útero, que a obriga a uma cirurgia que diminui imensamente as suas chaces de gerar um filho. E caso consiga engravidar, um segundo filho será impossível. Após a cirurgia, tentando superar a tristeza, Natália aceita o convite para se encontrar com as amigas a fim de se distrair um pouco. Arruma-se com esmero, usando um lindo vestido. Sente-se bonita! Resolve deixar o carro em casa e ir de ônibus para poder consumir bebida alcoólica. No caminho de casa até o ponto de ônibus, Natália é atacada por um estranho que a leva para um prédio abandonado e a violenta covardemente.
Nada mais será como antes na vida de Natália. Depressão, isolamento, pesadelos constantes e a descoberta de uma gravidez mais que indesejada. Com a gestação vem a dúvida, abortar ou ter um bebê que sempre a lembrará da violência sofrida? E se tiver o bebê, deve criá-lo ou dar para adoção? O livro traz inúmeras reflexões sobre a condição feminina. Faz-nos refletir sobre o papel que desempenhamos nessa sociedade tão machista. Afinal, será mesmo que toda a mulher nasce com o desejo de ser mãe, ou isso é algo imposto pela sociedade, e que assumimos como nosso? Por que uma mulher precisa constituir família para ser feliz? Por que tanta desigualdade na esfera profissional se já provamos que somos tão competentes quanto os homens? Não vou mentir, Filhos do silêncio não é uma obra para quem busca uma leitura leve e divertida, apenas para passar o tempo ou dar boas risadas, mas é uma ótima pedida para aqueles que gostam de uma leitura mais reflexiva e humanizadora, que vai ao cerne do problema da mulher sem se utilizar de disfarces. É um ótimo livro para homens e mulheres que não se conformam, que acreditam que no futuro pode ser melhor.
Ah, já ia esquecendo, a Editora Penalux enviou um exemplar a mais da obra, portanto, em breve teremos sorteio do livro por aqui. Aguardem!
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