
Então, eis que chega a fatídica manhã em que Gregor se transforma em um repugnante inseto. Ao perceberem que o desafortunado homem não poderia mais trabalhar para sustentá-los, seus familiares veem-se obrigados a buscar o sustento da família pelas próprias mãos. O pai e a irmã obrigam-se a encontrar um emprego. Conforme essas transformações ocorrem na estrutura familiar, o conceito de Gregor perante seus familiares, que antes era positivo, também muda. Agora, transformado em um inseto, ele passa a ser considerado um peso morto, um traste inútil, simplesmente um imprestável, que não passa de um incômodo para aqueles que antes viviam às suas custas. Gregor, agora, é objeto da repulsa daqueles que antes o adulavam.
Ao mesmo tempo em que Gregor transformava-se nesta criatura repulsiva, sua família transformava-se também, passando de acolhedora a hostil, isolando-o em seu mundinho, tornando-o cada vez mais solitário. Gregor, apesar de se aceitar como inseto, lamenta profundamente não poder mais trabalhar para bancar a família. É curioso notar que, em nenhum momento, ele se pergunta qual a razão para toda essa transformação, ele apenas aceita. O final da obra traz uma profunda reflexão sobre o modo como nossas vidas podem ser desperdiçadas, sobre qual é o nosso real valor na sociedade em que vivemos. É uma obra que trata da solidão humana. Através do protagonista de A Metamorfose, Franz Kafka nos mostra a realidade das condições de vida e de trabalho do homem do início do século XX, do processo de reificação pelo qual passava e que persiste ainda nos dias de hoje. Gregor Samsa viva apenas para o trabalho, não sobrando tempo para uma vida social. Contando-nos uma história absurda, Kafka nos mostra o quanto a sociedade pode ser sufocante, afastando-nos de nossa essência e, por vezes, esmagando-nos, como se fôssemos insetos. O texto é curto, porém profundo e intenso, seguramente está entre os melhores que já li em minha vida. Recomendo a todos que sabem apreciar uma obra-prima literária.
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