
Em A Bolsa Amarela, Lygia Bojunga apresenta-nos uma menina vivendo seus conflitos interiores. Ao iniciar o livro, a jovem narradora fala de suas três grandes vontades: crescer, ser menino e escrever. Mas elas não são quaisquer vontades, são daquele tipo que devem ser escondidas, daquelas que não devemos deixar “engordar”. Raquel experimenta o sentimento de inferioridade de quem não pode se expressar como gostaria somente por ter nascido mulher, ou por ainda ser criança. Como não possui maturidade suficiente para processar isso de forma racional, sente vontade de ter nascido homem. A jovem gostaria de ser um menino porque acredita que só os indivíduos do sexo masculino podem fazer tudo o que quiserem, como soltar pipa, por exemplo. Além disso, a menina desejava crescer logo porque “gente grande tá sempre achando que criança tá por fora” (p.26). E o seu terceiro desejo, o de escrever, é a forma encontrada pela garota para organizar o seu caos interior.
O elemento que serve de título à obra, uma bolsa amarela, representa um dos principais espaços, junto com o quintal da casa onde a menina morou e do qual sente falta, e a oficina de consertos, uma espécie de Eldorado, onde tudo funciona com perfeição e onde vive Lorelai (mais uma amiga imaginária). A bolsa amarela é o local onde a menina guarda suas vontades secretas, alguns amigos imaginários e onde vai, aos poucos organizando o seu mundo interior, ou seja, é um espaço psicológico. Em sua infância solitária, a criança substituiu o quintal pelo interior da bolsa.
A casa dos consertos constitui-se em um espaço imaginário extremamente importante por ser o local onde a menina faz suas grandes descobertas: ser criança é bom, ser menina é bom, os adultos não são maus, não existem tarefas para homens e tarefas para mulheres. Além disso, é um lugar onde se “descosturam” as ideias aprisionadas, como no caso do cão que mordia a todos porque não conseguia pensar em outra coisa.
Ao lermos A bolsa amarela, logo percebemos que não se trata de um daqueles livros, como muitos do passado e alguns da atualidade, que servem como pretexto para “doutrinar” a criança, mas, ao contrário, valoriza seus problemas, suas dúvidas e a encoraja a pensar por si própria. O galo Rei, amigo imaginário de Raquel, que logo passou a ser chamado de Afonso, representa aquele que resiste à tirania do senso comum, é a iniciação da criança a uma forma questionadora de pensar. Como acontece com os “diferentes”, o galo é perseguido. Mas isso não representa uma “mensagem” negativa para as crianças, ao contrário, elas são incentivadas a serem verdadeiras, como Afonso o é, e como Raquel busca se tornar.
Raquel é a grande heroína da história, consegue resolver seus problemas por si própria, sem a interferência de adultos. Torna-se mais confiante, mais amadurecida e, ao libertar-se de seus “pensamentos costurados”, pode, enfim, deixar partir os amigos imaginários, passando a carregar menos peso e a gozar de uma existência mais leve.
Amiga que resenha simplesmente maravilhosa.
ResponderExcluirNunca ouvi falar desse livro, mas eu gostei bastante de tudo que você contou.
Me parece ser um livro muito bom. Gostei da personagem pelo fato de ela criar o seu mundo
para poder guardar os seus sentimentos e pensamentos mais profundos, até porque toda criança tem medo mesmo de contar certas coisas para os pais. Eu também tinha sabia? Mas com isso do amigo imaginário foi uma saída dela compreender que não deve ter medo de fazer as coisas ou de contar. Isso é muito legal. Bom, pelo menos foi o que eu entendi do seu texto. Mas eu fiquei interessada, apesar de vc ter um genero diferente do meu eu gostei bastante. Acho que leria sim sem pensar duas vezes. Achei muito interessante.
http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/11/resenha-cartas-para-voce.html
Que bom que gostou. Acho que a autora consegue captar bem o universo infantil, e isso é o que cativa no texto. Obrigada pelo comentário!
ExcluirOlá,
ResponderExcluirGosto muito das suas resenhas, são sempre diretas e objetivas. Gostei da estória mas não sei se leria. Ultimamente, ando lendo mais NA e romance. Então, quem sabe um dia, não é mesmo? :)
Beijos,
entreoculoselivros.blogspot.com
Claro, mesmo quando uma leitura não é do nosso interesse, é bom conhecer e saber que a obra existe. Quem sabe até para indicar o livro a alguém ou dá-lo de presente, não é? ;)
ExcluirObrigada pelo comentário!
Olá!
ResponderExcluirTudo bem?
Adorei a sua resenha. Achei interessante um livro que não tente, como você mesmo disse, doutrinar as crianças, e sim fazer elas trabalharem com problemas da sociedade e eu achei isso muito interessante. Parabéns pela resenha!
Beijão :*
Delírios Literários da Snow
Valeu, Carolina! Livros que ensinam a pensar são bons mesmo. Quantos problemas evitaríamos no mundo se as pessoas pensassem mais, né? Obrigada pelo comentário!
ExcluirOiee ^^
ResponderExcluirJá tinha ouvido sobre esse livro antes, mas confesso que nunca tive vontade de ler, sabe?! Mas nem mesmo sabia do que se tratava. Fiquei curiosa para ler, principalmente por conta dos comentários em relação à obra, do jeito como falou dos personagens :)
MilkMilks
http://shakedepalavras.blogspot.com.br
É uma ótima leitura, Dryh. Recomendo! Obrigada por comentar!
ExcluirOlá! Eu já conhecia o livro e acho esta história simplesmente fantástica. Sua resenha me fez lembrar de alguns estudos que fiz na época da faculdade sobre a literatura infantil. Sobre esta necessidade de uma literatura para crianças, seus sentimentos, valores.
ResponderExcluirAchei muito interessante sua resenha. Infelizmente ainda temos alguns livros com esta do pode não pode, mas quando nos encontramos com um livro como este. Dá vontade de pular de alegria.
Abraços!
Pensamentos Valem Ouro
É verdade, Vanessa. É muito bom saber que existem autores que, ao produzirem suas obras, respeitam a infância. Obrigada pelo comentário!
ExcluirOlá,
ResponderExcluirque resenha maravilhosa!!!! me apaixonei pelo livro!
quando uma leitura infantil não vem com o motivo de doutrinar, e sim de dar asas a imaginação, dar gosto pela leitura, é tão legal né???
certamente é um livro que deveria estar na sala de aula!!!
bjs
Eu Pratico Livroterapia
Os melhores livros infantis são aqueles que os adultos também sentem prazer em ler. Concordo contigo, Denise, livros como esse deveriam ser lidos, não só em casa, mas na escola também. Obrigada pelo comentário!
ExcluirOi@
ResponderExcluirParabéns pela sua resenha! um livro desconhecido, mas com uma resenha perfeita que me deixou com vontade de ler. Pelas suas palavras dá para sentir a emoção que sentiu durante a leitura, assim como todos os ensinamentos que a história transmite.
Bjks!
http://www.historias-semfim.com/
Obrigada, Carla! É verdade, o livro me emociona mesmo. Valeu pelo comentário!
ExcluirUal, que livro infantil maravilhoso!! Cheio de coisas que todos deveriam ler!! Sua resenha ficou ótima!
ResponderExcluirVocê indicaria a leitura a partir de qual idade? Me interessei muito, meu filho ainda é novinho, mas quero guardar para ele!
Bjus
Blog Fundo Falso
Olha, Andréa, essa questão de idade adequada para ler um livro pode variar de criança para criança. Mas creio que no geral essa leitura deve ser indicada para crianças entre 11 e 12 anos. Não sei qual é a idade do teu filho, mas recomendo a leitura. Se não agora, futuramente. ;)
ExcluirObrigada pelo comentário!
Olá!
ResponderExcluirAdoro leituras infantis, acho elas leves e cheias de lições que a gente esquece a medida que cresce!
Beijos, Tabatha
http://aproveiteolivro.blogspot.com.br/
É verdade, Tabatha, essas leituras nos trazem de volta coisas que deixamos para trás com o passar do tempo, que até esquecemos por vezes. Acho que por isso costumam ser muito gratificantes.
ExcluirObrigada pelo comentário!
OI Tatiana, sua linda, tudo bem
ResponderExcluirAdorei sua resenha!!!! Sua análise sobre o psicológico da personagem me tocou. Eu fiquei fragilizada por saber o significado dessa bolsa, nunca iria imaginar pela capa que ela traria as dores, as dúvidas, os sonhos dessa garotinha e muito menos que ela conseguiria sozinha organizar o mundo dentro dessa bolsinha para ser forte o suficiente para viver no mundo aqui fora, espero que não precise mais da bolsa. Dica mais do que anotada!!!!
beijinhos.
cila.
http://cantinhoparaleitura.blogspot.com.br/
É uma história tocante mesmo, Cila, porque nos Remete aos medos e angústias que vivemos em nossa infância. Afinal, não é tão fácil assim crescer, pois o futuro é desconhecido e, por isso, um pouco assustador. Obrigada pelo comentário!
ExcluirOoi,
ResponderExcluirA muito tempo que não leio nada infantil assim, gostei da premissa e acho que ia amar ler kk vou anotar para ler nas férias.
Vitória Zavattieri
Corujas de Biblioteca
Haha Às vezes é bom voltar um pouco no tempo, né? Obrigada pelo comentário!
ExcluirOLá! Nem lembrava mais desse livro, li quando ainda era bem criança! FEz relembrar bastante a minha infãncia, parabéns pelo post,
ResponderExcluirumparadoxoliterario.blogspot.com
Obrigada, Anne! Fico feliz que já tenha lido o livro. Valeu pelo comentário!
ExcluirAdorei sua resenha e, mesmo não sendo meu estilo espero que consiga ler o livro logo.
ResponderExcluirEle foi indicado como leitura em uma escola aqui na minha cidade e pelo conteudo que o livro parece ter, acho que não foi em apenas uma. Espero que ele seja trabalhado em sala já que parece conter uma mensagem bem importante para as crianças e que não se torne somente um livro obrigatório.
Não só fiquei querendo ler como já pensei em duas pessoas para dar o mesmo de presente.
Beijinhos,
Lica
Amores e Livros
Seria um ótimo presente, Lica. Obrigada pelo comentário!
ExcluirOlá. Infelizmente não conhecia este livro mas amo livros que nos fazem refletir e que são leves. A temática é bem interessante e mesmo não sendo bacana para ser lido no momento por mim, já anotei para quem sabe ler futuramente.
ResponderExcluirBeijos e parabéns pela resenha.
Cada leitura tem o seu momento, não é? Obrigada pelo comentário!
ExcluirEsse livro é incrível!
ResponderExcluirA autora foi visionária lançando essa obra em plena Ditadura Militar na qual a liberdade de expressão foi escassa!
Eu tive contato com a obra 2X, a 1 foi no 9 ano e quando li não vi nada demais
Já a 2 foi graças a um trabalho na faculdade de Letras e cara! Que obra fantástica, quantas discussões importantes.
Amei
Eu
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