O nosso objetivo hoje é comentar, breve e resumidamente, o livro A teoria do romance, de Georg Lukács. Não se trata de uma análise aprofundada, mas de um texto que visa apenas dar ao leitor uma visão geral e rápida sobre a obra de desse autor. Sabemos que nem todos apreciam uma leitura mais teórica, porém, como a proposta do blog é compartilhar leituras, entendemos que todos os interesses devem ser contemplados.
Ao iniciar a sua obra, Lukács fala-nos de um tempo em que não havia filosofia, pois todas as explicações eram encontradas nos mitos. Segundo o autor, esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas, era a “infância” da humanidade. Esse é o contexto em que surge a epopeia, gênero que reflete plenamente a forma de pensar e de sentir do homem da época. Assim, o mundo grego nos é apresentado de forma homogênea e fechada. Em outras palavras, é perfeito e, portanto, estático, ao contrário do nosso mundo atual que, cada vez mais vasto e rico, perdeu em totalidade o que ganhou em abrangência. Essa é a razão pela qual Lukács afirma a impossibilidade de produzirem-se epopeias nos dias atuais, pois o homem grego vivia no equilíbrio de uma estrutura fechada, que se relaciona com o gênero épico, enquanto o homem atual rompe com essa harmonia e o mundo passa a apresentar-se com uma estrutura incoerente. No universo grego, o homem não conhecia solidão. “Aí não há ainda nenhuma interioridade, pois ainda não há nenhum exterior, nenhuma alteridade para a alma. Ao sair em busca de aventuras e vencê-las, a alma desconhece o real tormento da procura e o real perigo da descoberta, e jamais põe a si mesma em jogo; ela ainda não sabe que pode perder-se e nunca imagina que terá de buscar-se. Essa é a era da epopeia.” O homem atual, ao contrário, é extremamente solitário.
A tragédia conseguiu permanecer intacta em sua essência, embora tenha sofrido algumas mudanças. A epopeia, por outro lado, desapareceu, dando lugar ao romance. O que difere a epopeia do romance é o fato de que este último pertence a uma época em que a totalidade da vida já não é mais evidente. A epopeia apresenta-nos uma totalidade acabada para si mesma, enquanto o romance tenta descobrir essa totalidade. Sara Sefchovich, em sua obra A teoria da literatura de Lukacs mostra-nos o autor como alguém que “vê no homem moderno arrojado fatalmente a alienação e a a fragmentação entre o interno e o externo, entre o sujeito e o objeto, o intelecto e a vida, a essência e a aparência, a forma e o conteúdo, a arte e a ciência.”
A forma romanesca contrapõe-se à infantilidade normativa da epopeia, mostrando uma força amadurecida. O romance compõe-se por uma fusão paradoxal de fatores heterogêneos e descontínuos, tendo sua coerência alcançada por meio da forma. “A mediação entre literatura e vida se faz pela harmonização dos contrários, a unidade do todo superando a contradição das partes ou elementos.”, segundo Maria da Glória Bordini no livro Lukács e a literatura. Enquanto os outros gêneros literários possuem uma forma acabada, no romance, ela é um processo.
Se a epopeia mostra o homem em perfeita harmonia com seu universo fechado, o romance indica o rompimento dessa consonância. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado. Para Lukács “A epopeia dá forma a uma totalidade de vida fechada a partir de si mesma, o romance busca descobrir e construir, pela forma, a totalidade oculta da vida.” Assim, o romance é a expressão literária do rompimento da unidade, e ao mesmo tempo é um meio que serve para desvelar e edificar a totalidade oculta da vida.
Lukács destaca quatro momentos nesse gênero. No primeiro, o herói é um visionário que se sente menor que o mundo, solitário. Isso acontece em razão de uma inadequação entre a alma e a obra literária, entre interioridade e aventura. Observa-se assim, um caráter degradado do herói problemático, que mostra uma inaptidão que impede a realização do ideal. A isso Lukács chama de idealismo abstrato, e cita como exemplo a obra D. Quixote, de Cervantes.
Um segundo momento seria o que o autor denomina romantismo da desilusão, no qual o herói é apresentado como um ser desajustado, em conflito com o mundo. Nesse caso, há uma tendência, por parte do indivíduo, de buscar uma fuga das questões conflituosas e das lutas exteriores. Werther, de Goethe, é o exemplo apresentado por Lukács.
Há, ainda, o que o autor chama de anos de aprendizado. Nesse caso, o herói sofre, entretanto, aprende com as experiências da vida e, por isso, consegue realizar algo de positivo. Lukács chama a esse terceiro tipo, de romance de educação. O indivíduo situa-se entre os dois tipos apresentados anteriormente, abordando a reconciliação do homem problemático com a realidade concreta e social. A Montanha Mágica, de Thomas Mann, serve como exemplo para esse tipo de romance.
No quarto tipo, Lukács cita o russo Tolstoi como sendo o representante maior da epopeia moderna. Essa é a literatura da superação das formas sociais de vida, e o herói atua sobre a sociedade para ajustar-se a ela. Mas essa superação não consegue resolver os problemas inerentes ao homem moderno. Ao contrário, acentua-os, ficando muito longe da realidade sem problemas da épica.
A Teoria do Romance não é um livro indicado para quem busca apenas uma leitura de fruição, pois trata-se de uma obra teórica e bastante densa. Mas para aqueles que anseiam por um maior conhecimento literário em nível teórico, não só recomendo, como garanto que se trata de um livro indispensável.
Ao iniciar a sua obra, Lukács fala-nos de um tempo em que não havia filosofia, pois todas as explicações eram encontradas nos mitos. Segundo o autor, esse era um tempo sem dúvidas, portanto, sem necessidade de respostas, era a “infância” da humanidade. Esse é o contexto em que surge a epopeia, gênero que reflete plenamente a forma de pensar e de sentir do homem da época. Assim, o mundo grego nos é apresentado de forma homogênea e fechada. Em outras palavras, é perfeito e, portanto, estático, ao contrário do nosso mundo atual que, cada vez mais vasto e rico, perdeu em totalidade o que ganhou em abrangência. Essa é a razão pela qual Lukács afirma a impossibilidade de produzirem-se epopeias nos dias atuais, pois o homem grego vivia no equilíbrio de uma estrutura fechada, que se relaciona com o gênero épico, enquanto o homem atual rompe com essa harmonia e o mundo passa a apresentar-se com uma estrutura incoerente. No universo grego, o homem não conhecia solidão. “Aí não há ainda nenhuma interioridade, pois ainda não há nenhum exterior, nenhuma alteridade para a alma. Ao sair em busca de aventuras e vencê-las, a alma desconhece o real tormento da procura e o real perigo da descoberta, e jamais põe a si mesma em jogo; ela ainda não sabe que pode perder-se e nunca imagina que terá de buscar-se. Essa é a era da epopeia.” O homem atual, ao contrário, é extremamente solitário.
A tragédia conseguiu permanecer intacta em sua essência, embora tenha sofrido algumas mudanças. A epopeia, por outro lado, desapareceu, dando lugar ao romance. O que difere a epopeia do romance é o fato de que este último pertence a uma época em que a totalidade da vida já não é mais evidente. A epopeia apresenta-nos uma totalidade acabada para si mesma, enquanto o romance tenta descobrir essa totalidade. Sara Sefchovich, em sua obra A teoria da literatura de Lukacs mostra-nos o autor como alguém que “vê no homem moderno arrojado fatalmente a alienação e a a fragmentação entre o interno e o externo, entre o sujeito e o objeto, o intelecto e a vida, a essência e a aparência, a forma e o conteúdo, a arte e a ciência.”
A forma romanesca contrapõe-se à infantilidade normativa da epopeia, mostrando uma força amadurecida. O romance compõe-se por uma fusão paradoxal de fatores heterogêneos e descontínuos, tendo sua coerência alcançada por meio da forma. “A mediação entre literatura e vida se faz pela harmonização dos contrários, a unidade do todo superando a contradição das partes ou elementos.”, segundo Maria da Glória Bordini no livro Lukács e a literatura. Enquanto os outros gêneros literários possuem uma forma acabada, no romance, ela é um processo.
Se a epopeia mostra o homem em perfeita harmonia com seu universo fechado, o romance indica o rompimento dessa consonância. É a ruptura entre o sujeito e seu mundo, o momento em que a totalidade deve ser buscada, em meio a um ambiente fragmentado. Para Lukács “A epopeia dá forma a uma totalidade de vida fechada a partir de si mesma, o romance busca descobrir e construir, pela forma, a totalidade oculta da vida.” Assim, o romance é a expressão literária do rompimento da unidade, e ao mesmo tempo é um meio que serve para desvelar e edificar a totalidade oculta da vida.
Lukács destaca quatro momentos nesse gênero. No primeiro, o herói é um visionário que se sente menor que o mundo, solitário. Isso acontece em razão de uma inadequação entre a alma e a obra literária, entre interioridade e aventura. Observa-se assim, um caráter degradado do herói problemático, que mostra uma inaptidão que impede a realização do ideal. A isso Lukács chama de idealismo abstrato, e cita como exemplo a obra D. Quixote, de Cervantes.
Um segundo momento seria o que o autor denomina romantismo da desilusão, no qual o herói é apresentado como um ser desajustado, em conflito com o mundo. Nesse caso, há uma tendência, por parte do indivíduo, de buscar uma fuga das questões conflituosas e das lutas exteriores. Werther, de Goethe, é o exemplo apresentado por Lukács.
Há, ainda, o que o autor chama de anos de aprendizado. Nesse caso, o herói sofre, entretanto, aprende com as experiências da vida e, por isso, consegue realizar algo de positivo. Lukács chama a esse terceiro tipo, de romance de educação. O indivíduo situa-se entre os dois tipos apresentados anteriormente, abordando a reconciliação do homem problemático com a realidade concreta e social. A Montanha Mágica, de Thomas Mann, serve como exemplo para esse tipo de romance.
No quarto tipo, Lukács cita o russo Tolstoi como sendo o representante maior da epopeia moderna. Essa é a literatura da superação das formas sociais de vida, e o herói atua sobre a sociedade para ajustar-se a ela. Mas essa superação não consegue resolver os problemas inerentes ao homem moderno. Ao contrário, acentua-os, ficando muito longe da realidade sem problemas da épica.
A Teoria do Romance não é um livro indicado para quem busca apenas uma leitura de fruição, pois trata-se de uma obra teórica e bastante densa. Mas para aqueles que anseiam por um maior conhecimento literário em nível teórico, não só recomendo, como garanto que se trata de um livro indispensável.
Olá, parabéns pelo blog, estou te seguindo. Pode dar uma passadinha lá no meu?
ResponderExcluirLink do blog: http://sacoliterario.blogspot.com.br
Ah, lá tem uma tag bem legal que eu criei (Whatsapp literário) e sinta-se desafiada a respondê-la aqui, ok?
Obrigada! Darei uma passadinha por lá sim.
Excluir😍😍😍😍😍
ResponderExcluirObrigada pela visita! Se tiver alguma dúvida, pergunte. Terei muito prazer em responder. ;)
ExcluirNão conhecia esse livro
ResponderExcluirAmei o seu blog!!
Estou seguindo o seu blog e sua Fan Page
Esse é o meu Instagran: @luanacarvalhoi te retribuo lá
http://meuestiloe.blogspot.com.br/
Beijinhos.
Obrigada, Luana! Farei uma visita ao seu blog.
Excluir👏👏👏👏 Essa análise me ajudou bastante... Valeu!
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